sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Elis...


Sentimental eu fico
Quando pouso na mesa de um bar,

Eu sou um lobo cansado carente
De cerveja e velhos amigos,

Na costura da minha vida
Mais um ponto,

No arremate do sorriso mais um nó
Aqui pra nós cantar não tá pra peixe
Tem coisa transformando a água em pó,

E apesar de estar no bar caçando amores
Eu nego tudo e invento explicações,

Amigo velho amar não me compete
Eu quero é destilar as emoções,

Sentimental eu fico . . .

E os projetos todos tolos combinados
Perecerão nas margens da manhã,

Uma tontura solta na cabeça
Um olho em Deus e outro com satã,

E quando o sol raiar desentendido
Eu vou ferir a vista no amanhã,

E olharei para quem vai pro trabalho
Com os olhos feito os olhos de uma rã........

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Papoulas de Julho - Sylvia Plath


Ó papoulinhas pequenas flamas do inferno,
Então não fazem mal?

Vocês vibram. É impossível tocá-las.
Eu ponho as mãos entre as flamas. Nada me queima.

E me fatiga ficar a olhá-las
Assim vibrantes, enrugadas e rubras, como a pele de
uma boca.

Uma boca sangrando.Pequenas franjas sangrentas!

Há vapores que não posso tocar.
Onde estão os narcóticos, as repugnantes cápsulas?

Se eu pudesse sangrar, ou dormir !
Se minha boca pudesse unir-se a tal ferida !

Ou que seus licores filtrem-se em mim, nessa cápsula
de vidro,
Entorpecendo e apaziguando.
Mas sem cor. Sem cor alguma.

( tradução de Afonso Félix de Souza )

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Sylvia Plath em Ariel


ARIEL

Estancamento no escuro
E então o fluir azul e insubstancial
De montanha e distância.

Leoa do Senhor
como nos unimos
Eixo de calcanhares e joelhos!... O sulco

Afunda e passa, irmão
Do arco tenso
Do pescoço que não consigo dobrar

Sementes
De olhos negros lançam escuros
Anzóis...

Negro, doce sangue na boca,
Sombra,
Um outro vôo

Me arrasta pelo ar...
Coxas, pêlos;
Escamas e calcanhares.
Branca
Godiva, descasco
Mãos mortas, asperezas mortas

E então
Ondulo como trigo, um brilho de mares.
O grito da criança

Escorre pela parede.
E eu
Sou a flexa,

O orvalho que voa,
Suicida, unido com o impulso
Dentro do olho

Vermelho, caldeirão da manhã.

(tradução de Ana Cândida Perez e Ana Cristina César)

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Carmem!


Portinari - 1959

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Mesa torta
Cara torta
Todos tortos ...

Os meus 25 anos são vermelhos!

terça-feira, 16 de junho de 2009

A beleza de não escrever!

Eu Greta não ando conseguindo escrever..


Esboço, apago,reclamo...
amasso, recomeço, fumo..
volto, me disperso e esqueço.

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Se não fora abusar da paciência divina
Eu mandaria rezar missa pelos meus poemas que não conseguiram ir além da terceira ou quarta linha,

Eu mandaria rezar o réquiem mais profundo
Não só pelos meus
Mas por todos os poemas inválidos que se arrastam
pelo mundo
E cuja comovedora beleza ultrapassa a dos outros
Porque está, antes e depois de tudo,
No seu inatingível anseio de beleza!

Trechos de A missa dos Inocentes - Mario Quintana

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Presença - Para Lara de Lemos


É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas,
teu perfil exato e que, apenas, levemente, o vento
das horas ponha um frêmito em teus cabelos...
é preciso que a tua ausência trescale
sutilmente, no ar, a trevo machucado,
a folhas de alecrim desde há muito guardadas
não se sabe por quem nalgum móvel antigo...
Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janela
e respirar-te, azul e luminosa, no ar.
É preciso a saudade para eu te sentir
como sinto - em mim - a presença misteriosa da vida...
Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevista
que nunca te pareces com o teu retrato...
E eu tenho de fechar meu olhos para ver-te!

Mario Quintana

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Como não lembrar da camisa rosa atada na cabeça,
do cabelo despenteado,
do seu contra-senso, debochado,
e das agradáveis olheiras!

Greta

sexta-feira, 15 de maio de 2009


Ansiedade?


ânsia de estar, ir, partir, voltar, fazer.

ânsia de querer, poder, permanecer, ter.

ânsia de estar inteira.

inteira, plena, bobeiras.

milhares de verbos em segundos de pensamentos tensos.


Com licença Ânsia, permita-me alguns segundos de tranquilidade, pois vou ali vomitar!

Greta.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Florbela Espanca


O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais;

há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que eu nem mesma compreendo, pois estou longe de ser uma pessoa;

sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudade… sei lá de quê!
Florbela Espanca

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Infância de Greta.


Desde os primórdios da sua infância nunca foste do vestido rosa, do andar delicado e do falar pausado,

As poças, os poços, as fossas,

Lembro-me de quando fez magia para que da aula de piano não lembra-se nem o dia,

E o horror ao Balé?

Elas as fadas e você flamante em ser bruxa!

Greta.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009


Hoje estou querendo inventar o meu próprio pecado, pois estou de saco cheio dos que andam circulando por ai.
Greta.